10/03/2021 às 21:20

A Verdade que Ninguém Gosta de Confrontar

4min de leitura

Quem me conhece mais afundo, sabe que não faço o tipo de pessoa "viciada em trabalho" - entre viver para trabalhar e trabalhar para viver, eu sempre acabo ficando com a segunda alternativa -. Não, eu não tenho nada contra aos adeptos de viver para o labor, estou cercada de pessoas com tais aptidões e não canso de dizer o quanto elas costumam me surpreender de formas positivas e inesperadas. Mas o fato é que desde sempre, eu pensava em como a gente vive girando em torno de um sistema que parece fluir mais para trás do que para a frente - e eu não me vejo passando a vida toda me dedicando ao extremo para o trabalho, para ter uma condição legal de vida para usufruir na velhice, quando eu possivelmente não estarei com a saúde da forma que gostaria para tanto. - e remar contra a correnteza sempre foi uma coisa minha, da minha personalidade. Mas claro que isso não me isenta da necessidade de dedicar algum tempo ao trabalho, e me isenta menos ainda do amor que sinto enquanto estou trabalhando em algo que amo, em um projeto com o qual me identifico e que tende a demandar mais do meu tempo.

E eu costumo entregar o tempo nesses projetos feliz da vida.

Porém, em algum momento, uma situação que aconteceu me despertou para outra realidade.

Minha filha, de 2 aninhos, quis brincar comigo e eu estava trabalhando, e por não poder, falei para ela que podia brincar sozinha pois a mamãe já ia, pois estava trabalhando. Então, ela foi e fez a própria voz e a vozes das bonecas. A conversa:

- Amiga, você pode brincar comigo?

- Não, eu não posso brincar, tô trabalhando. 

...

Eu me senti, simplesmente, a pior mãe do mundo.  Como eu pude negar um pouquinho do meu tempo para minha filha? A motivação real de todos os meus esforços e dedicação para trabalhar?

Eu larguei ABSOLUTAMENTE TUDO o que estava fazendo e fui correndo abraçar ela. Meus olhos eram lágrimas naquele momento e eu disse que brincaria com ela a tarde toda, e na verdade, eu dediquei uma semana inteira para dar mais atenção a ela. 

Pensando agora e analisando, sei que não somos pais ruins. Temos as dificuldades que todos os pais de primeira viagem enfrentam, o que é absolutamente normal. Todos os dias conversamos com nossa pequena. Rimos das histórias que ela conta, às vezes brincamos, às vezes assistimos junto dela o desenho favorito dela. Tem dia que deixamos ela brincar de "assistente" (ela é toda curiosa com os afazeres da casa e a gente deixa ela quebrar um ovo quando estamos cozinhando, ou mexer o arroz enquanto estamos lavando) e ela fica toda radiante por estar aprendendo! Tem momentos em que lemos os livrinhos dela e ela "lê" eles de volta para a gente - com a versão dela da história, claro - e acho isso fabuloso!

O fato que ninguém gosta de confrontar é que a pandemia está roubando a infância dos nossos filhos!  Sim, isso mesmo que você ouviu. Era para nesse ano minha filha conhecer a praia. Tinha planejado levar ela mas a pandemia está acontecendo e eu não poderia ser displicente e arriscar.  Era para esse ano ser o último da minha filha na creche. Mas tenho medo de mandar ela antes que a vacina seja amplamente distribuída, e basta entrar no Facebook para ver a quantidade de casos nas escolas e entre as crianças.  Era para ela crescer mais próxima dos primos, para que tivesse com quem brincar.  Mas todos estamos com medo e evitando as visitas ao máximo. Era para ela ter a festinha de aniversário da Minnie ano passado. Foi adiada ano passado e esse ano novamente.

(Essa foto especificamente foi tirada pela Tatiane Buratto, em 2021)

Sim, a pandemia está nos forçando a mudar nossos ritmos, afetando os momentos em família, e ao mesmo tempo que vivemos o que vivemos - apesar da pandemia, as contas não param de chegar e a pergunta é: como podemos parar de trabalhar se não param de nos forçar a fazer dinheiro de alguma forma?

E nessa reflexão eu vou além. Porque o centro dessa discussão e dessa verdade não deveria ser política ou gestão do sistema único de saúde, mas sim, como a pandemia está afetando nossas crianças?

Como nós adultos estamos lidando com isso, e mais, como nossas atitudes e decisões com o nosso estado emocional abalado (desculpe, mas não sei de um único adulto que esteja com o emocional ok nesse momento) estamos afetando nossos filhos, sobrinhos e netos

Como está sendo para eles entender o que estamos passando?

Estamos apoiando eles o suficiente?

Estamos disponíveis para eles quando eles precisam tanto quanto nós de atenção, de dedicação, de conversas, de um momento para estarmos juntos?

Fica então a reflexão. 

E enquanto refletimos, estou procurando uma receita nova para que eu possa cozinhar com a minha pequena quando chegar em casa. ❤ 

Todas as fotos desse artigo pertencem à Apogeu das Recordações Fotografia, exceto a que foi marcada com a autora abaixo.

10 Mar 2021

A Verdade que Ninguém Gosta de Confrontar

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